As Principais Lesões em Praticantes de Corrida - Parte 2
Prezados (as) leitores (as) VO2 Adventure. Dando continuidade a nossa primeira matéria sobre as principais lesões encontradas em praticantes de corrida, lançamos a segunda parte para que possam conhecer melhor o que se passa com o corpo de um praticante de atividade física e saber o que fazer diante de cada tipo de lesão. Lembrem-se sempre de ter o acompanhamento de um médico, fisioterapeuta e profissional de educação física, para que possam ter sucesso na reabilitação. Grande abraço a todos e qualquer dúvida, é só mandar.
CONDROMALÁCIA PATELAR: A condromalácia patelar (também conhecida como síndrome da dor patelo-femoral, ou “joelho de corredor”) consiste em uma patologia crônica degenerativa da cartilagem articular da superfície posterior da patela e dos côndilos femorais correspondentes, que produz desconforto e dor ao redor ou atrás da patela. É comum em jovens adultos, especialmente jogadores de futebol, ciclistas, jogadores de tênis, corredores e inclusive mulheres devido a sua anatomia, com quadris mais largos. A condromalácia patelar refere-se ao joelho que foi estruturalmente danificado, enquanto que o termo mais genérico síndrome da dor patelo-femural se refere aos estágios iniciais dessa condição, na qual os sintomas ainda podem ser completamente revertidos. Porém, eventualmente, mudanças causadas por reações inflamatórias internas da cartilagem produzem um dano estrutural muito mais difícil de ser tratado. Segundo a classificação descrita por Outerbridge (1961), existem 04 níveis de condromalácia patelar, de acordo com o estágio de deterioração da cartilagem. Graus e características: I – amolecimento da cartilagem e edemas II – fragmentação de cartilagem ou fissuras com diâmetro < 1,3cm diâmetro III – fragmentação ou fissuras com diâmetro > 1,3cm IV – erosão ou perda completa da cartilagem articular, com exposição do osso subcondral Os principais sintomas são: dor profunda no joelho ao subir e principalmente ao descer escadas, ao levantar-se de uma cadeira, ao correr, muitas vezes restringindo atividades físicas. Dores atrás ou ao redor da patela que ocorrem principalmente quando o joelho é flexionado – como ao subir escadas ou agachar-se, por exemplo. Uma ardência ou dor ao ficar com o joelho flexionado por longos períodos, mesmo sem forçá-lo, também é um sintoma comum na condromalácia patelar, além de crepitação e estalos, muitas vezes audíveis. É possível também a presença de derrame intra-articular (edema). A causa exata ainda permanece desconhecida, porém segundo a literatura, acredita-se que esteja ligada a fatores anatômicos, histológicos e fisiológicos, que resultam no enfraquecimento e amolecimento da cartilagem envolvida. O fator mais comum é o traumatismo, seja por um trauma crônico por fricção crônica entre a patela e o sulco patelar do fêmur – por onde ela passa durante a flexão do joelho – em razão do uso inadequado de aparelhos de ginástica, exercícios em step, agachamentos ou leg press, bem como pela prática inadequada de esportes, com força excessiva aplicada na patela; ou por um trauma distinto, como uma pancada ou choque do joelho sobre um objeto, e lesão aguda da cartilagem femoropatelar, com impedimento da nutrição ideal dessa estrutura devido às rachaduras originadas. As anomalias biomecânicas, como a super pronação dos pés, também podem resultar em incongruência entre a direção em que a patela é puxada pelo músculo do quadríceps e o formato do sulco patelo-femural por onde ela se desloca. Podemos citar como medidas de tratamento: * Excluir exercícios e esportes de alto impacto (futebol, vôlei, basquete, corrida, ciclismo) ou atividades suspeitas de causarem a lesão. Natação é um bom exercício para manter o condicionamento físico sem afetar o joelho; * Reforçar os músculos fracos, fazendo exercícios leves e de baixo impacto. Alguns autores sugerem ser especialmente importante reforçar o músculo vasto medial para equilibrar as forças atuantes sobre a patela – fazendo extensão de cada perna separadamente, por exemplo; * É importante avaliar o limite de extensão e flexão do joelho durante os exercícios, para não agravar o quadro. Peça ao profissional para demonstrar. Evite a sobrecarga; * Alongar quadríceps, banda iliotibial (lateral), posterior da coxa, tendões e panturrilha regularmente. Não deixar de lado o treinamento de flexibilidade; * Colocar gelo no joelho após os exercícios; * Evitar subir e descer escadas; * Garantir lugar suficiente para a perna no carro ou no seu lugar de trabalho, evitando manter o joelho flexionado mais de 90 graus por muito tempo, além de não sentar com uma perna dobrada embaixo do quadril; * Manter boa postura e evitar cruzar as pernas por longos períodos; * Não sentar sobre as pernas com o joelho em hiperflexão; * Quando estiver deitado, não deixar o peso do corpo pressionar ou mover a patela, usando um travesseiro para manter os joelhos levemente separados e as patelas no lugar; * Usar sapatos confortáveis, principalmente durante os exercícios; * Evitar aplicar peso excessivo na articulação afetada, perdendo peso se necessário; * É imprescindível fazer uma avaliação com um reumatologista, um ortopedista, fisioterapeuta, para receber o tratamento correto, além de ter um acompanhamento de um profissional de educação física dentro da academia.
FASCIITE PLANTAR: Quando ocorre a lesão próxima ao osso, este pode tentar se curar produzindo osso novo. Isto resulta no desenvolvimento de um esporão de calcâneo. Sem a espora a condição é chamada de fasciite plantar, apenas a lesão muscular. O esporão calcâneo é uma formação óssea reativa em forma de esporão (espícula óssea), localizada na fasce plantar do calcâneo (osso do pé). Pessoas com esta patologia têm dor na região plantar sob o calcâneo. Alguns artigos dizem que o esporão é conseqüente da fasciite plantar. O esporão do calcâneo faz parte do quadro e se caracteriza por um crescimento ósseo no calcâneo, mas é importante salientar que a dor esporão não ocorre na fáscia plantar e sim nas lesões causadas pela espicula óssea que se formou no osso do calcâneo, passando a agredir o músculo flexor curto dos dedos, o qual é adjacente a fáscia. Apenas 50% das pessoas com fasciite têm esporão e 10% das pessoas sem dor no calcâneo também tem esporão. A fasciite plantar é uma inflamação uni ou bilateral, decorrente de microtraumatismos repetitivos na origem da fáscia plantar sobre a tuberosidade medial do calcâneo. Esta síndrome atinge cerca de 10% da população em pelo menos um momento da vida e sua causa mais comum é de origem mecânica, envolvendo forças compressivas que ampliam o arco longitudinal do pé A fasciite plantar é resultado de uma desordem nas fibras da aponeurose plantar, causada possivelmente por anormalidades anatômicas e uso excessivo. Outros fatores podem estar associados à mesma, tais como: a falta de flexibilidade do arco longitudinal da fáscia plantar e a rigidez das musculaturas da panturrilha, assim como o uso de calçados inadequados e o aumento do tamanho do passo durante a caminhada ou corrida, já que é uma anomalia comum entre corredores. Podemos citar como fatores de risco: - Corridas de longa distância; - Calçados inadequados à curva do pé ou frouxos; - Obesidade; - Permanência por longos períodos em pé; - Danças, incluindo especialidades como o ballet e danças aeróbicas. Tratamento: * Alongamentos de panturrilha normalmente têm uma participação na fáscia plantar. Exercícios com panos e bolas de tênis podem cooperar com o alongamento da fáscia; * Repouso; * Bandagem com uso de fitas esportivas. Com o auxílio de fitas apropriadas – do tipo esparadrapo – há uma maior proteção da fáscia plantar que auxilia na recuperação. A fita tem resultado por ser posicionada em certos lugares eliminando a tensão que provocou a inflamação. Na maioria dos casos apresenta melhora imediata sendo, entretanto, desapropriada se houver envolvimento nervoso; * Gelo (crioterapia) é recomendado às lesões agudas, recentes. A água quente (termoterapia) é recomendada às lesões crônicas, antigas e reincidentes. O gelo é analgésico e antiinflamatório. O calor normalmente incomoda a maioria dos pacientes de fasciite plantar, apesar de ser o recomendado. O gelo pode ser mais eficiente. O procedimento é aplicar o gelo até não sentir a sola do pé, cuidando para prevenir queimaduras de frio; * As palmilhas ortopédicas ou órtese melhoram substancialmente a dor. Mas não a cura. São chamadas de órteses, feitas sobre medidas, mas acha-se facilmente em lojas de podologia. Elas influenciam na pisada. A menos que você saiba exatamente se seu pé é valgus (pronado) ou supinado é aconselhado consultar o ortopedista. Este irá aplicar testes visuais ou aparelhos como o podobarômetro; * Antiinflamatórios somente servem em caso de início de inflamação. Normalmente, não vêm ao caso. Antes de se medicar, procure um médico; * Um método que é pouco utilizado e visto como antigo, é a utilização dos “splints” que são aparelhos que mantêm o tornozelo em 90° para manter a musculatura posterior da perna e a própria fáscia alongada durante a noite; * Crochetagem é uma nova técnica manipulativa, desenvolvida pelo fisioterapeuta sueco Kurt Eeckman, colaborador do Dr. James Cyriax age também no tratamento da membrana. A técnica baseia-se na utilização de ganchos ou “crochets”, que são utilizados na quebra das aderências do sistema músculo-esquelético. Divide-se em três fases sucessivas: Palpação digital, palpação instrumental e fibrólise. Há ainda, a técnica perióstea a drenagem. Seu objetivo principal é o rompimento de pontos de fibrose, geralmente causados pelo acúmulo de cristais de oxalato de cálcio nos planos aponeuróticos, causando irritação. A fibrólise consiste em uma tração complementar, realizada com a mão que segura o gancho, ao final da fase de tração instrumental. Essa fase corresponde ao tempo terapêutico. A palpação digital consiste em uma espécie de amassamento digital, realizado com a mão esquerda, que permite um delineamento da área a ser tratada. A palpação instrumental, realizada com o gancho que melhor se adapte a estrutura a ser tratada, serve para a localização precisa das fibras conjuntivas aderentes e os corpúsculos fibrosos, e é realizada colocando-se a espátula do gancho junto ao dedo indicador da mão esquerda.
SÍNDROME DA PEDRADA (TENNIS LEG): Esta síndrome nada mais é do que o nome criativo dado ao estiramento muscular das fibras do músculo gastrocnêmio – geralmente envolvendo a cabeça medial. Esta condição é também chamada de “Tennis Leg”. Esta denominação pouco usada no Brasil, mas útil para quem quiser procurar mais informações sobre o assunto em sites de língua inglesa. A contração brusca e intensa do músculo tríceps sural pode gerar uma ruptura de suas fibras. Geralmente é causada durante a corrida (como ao atravessar a rua). Esta lesão caracteriza-se por dor súbita localizada na parte posterior da perna, de intensidade variável, seguida de hematoma. Pode ocorrer também um estalido audível. Devido a estas características, alguns pacientes relatam que a sensação no momento da lesão é como se tivessem sido atingidos por uma pedra. No momento da lesão a perna pode falsear fazendo a pessoa cair no chão. O grau de ruptura muscular pode variar de leve, apresentando sintomas de pequena intensidade, a moderado, fazendo o indivíduo mancar. Em casos graves, a ruptura muscular pode mesmo incapacitar a pessoa de andar. Às vezes, especialmente entre idosos e pessoas na meia-idade, os sintomas podem ser confundidos com um episódio de Trombose Venosa Profunda (TVP). No momento da lesão ocorre uma dor súbita e aguda, seguida por uma dor em queimação na panturrilha afetada. A pessoa geralmente descreve um “estalo” na panturrilha e, por vezes, acredita que ele ou ela tenha sido atingido por trás, como se por uma pedrada. Outro sintoma pouco mencionado é que em casos moderados/graves, a batata da perna fica “murcha” (hipotônica), talvez isso aconteça devido a uma inibição muscular pela dor. Após a lesão aguda, a dor pode variar de leve a intensa, dependendo da gravidade do estiramento muscular. O paciente pode apresentar incapacidade de colocar o calcanhar no chão, geralmente caminhando na ponta dos dedos do pé para reduzir a dor. A dor pode estender-se por todo o comprimento do músculo lesionado e piorar durante a contração ativa ou alongamento passivo. Equimoses e hematomas podem surgir no tornozelo. A recuperação depende do grau da lesão, em geral variando entre alguns dias até cerca de seis semanas. Em geral esta lesão não deixa sequelas. Porém nos casos mais graves, se não for tratada corretamente, a remodelação cicatricial pode ocorrer de forma desorganizada, o que pode tornar o músculo fraco e propenso a novas lesões.
Grande abraço!
Referência: Walker, Brad. Lesões no esporte: uma abordagem anatômica. Barueri, SP: Manole, 2010
O Prof. Esp. Geraldo Lopes tem como formação:
Licenciatura Plena em Educação Física pela UFRJ,
Pós Graduação em Atividade Física Adaptada e Saúde pela Universidade Gama Filho;
Ciências da Performande Humana pela UFRJ. É fundador e coordenador da VO2 Adventure Assessoria Esportiva